Memórias d'Água

Este vídeo faz parte do meu percurso de pesquisa em dança e ecocriação sensível, no qual investigo a relação entre corpo, água e movimento como campos coreográficos vivos. Meu interesse é compreender como a imersão — física, sensorial ou imaginativa — pode gerar novas formas de percepção e composição, conectando práticas somáticas, ecologia e de criação artística.

A experiência que compartilho aqui foi criada a partir de um marco nesse caminho. Nasceu de memórias da primeira vez que senti, de forma plena e corporalizada, o que chamo de águas co-moventes:

Em 2011, o mar Mediterrâneo, na cidade de Nice, França, estava sem ondas. Profundo, quente, um ecossistema que desafiava a gravidade. No sal de suas águas, pude flutuar à deriva, envolvendo e sendo envolvida num contínuo fluxo com o mar.

Foi também o momento em que, pela primeira vez, identifiquei a correlação entre o movimento sensível das fáscias, que compõem nosso tecido conjuntivo — tal como conheço nas práticas desenvolvidas por Danis Bois, na Pedagogia Perceptiva do Movimento e na Fasciaterapia — e a imersão do corpo nas águas.

Os movimentos mar-corpo eram familiares — eram quem sou. Fáscias líquidas, deslizando em direções precisas e abertas; antagonistas e agonistas compondo-se como lâminas d’água. Uma singularidade líquida, orgânica, ancestral — alheia a qualquer pensamento que eu pudesse ter naquele instante.

Essa descoberta me levou a criar, anos depois, a expressão águas co-moventes para descrever as experiências líquidas que emergem desses encontros entre as águas. Dar nome a essas experiências é um gesto fundamental: me ajuda a reconhecê-las, a me conectar a elas e de lembrar.

Acesse ao vídeo : https://vimeo.com/461435613 Memórias d'Água 

23/08/2020

Vídeo feito como exercício com posicional para a matéria Tópicos Especiais em Artes Cênicas, 

PPG-Cen, UNB

Deborah Dodd: texto, vídeo, composição e performance
Música:  
John Grout: Pacific Ocean (Maui)
Erik Satie: Gymnopédies